A alienação



O QUE É ALIENAÇÃO

Há inúmeros sentidos para o conceito de alienação. Juridicamente, por exemplo, refere-se à perda do usufruto ou posse de um bem ou direito pela venda. Referimo-nos a alguém como alienado mental, dizendo, com isso, que tal pessoa é louca (aliás, alienista é o médico de loucos). No ponto de vista religioso, a alienação aparece nos fenômenos da idolatria, quando um povo cria ídolos e se submete a eles. Para Rousseau, a soberania do povo é inalienável, isto é, pertence somente ao povo e ele não deve perder o poder. Na vida diária, chamamos alguém de alienado quando o percebemos desinteressado de assuntos comumente interessantes nos paradigmas atuais. Em meio a tantos sentidos, há algo em comum no uso da palavra alienação; todos envolvem perda, seja a perda de algo, de posse, da mentalidade sã, da sensatez ou mesmo do poder. Perda no sentido de deixar de ter numa visão ampla, abrangendo o material e o não material.

Etimologicamente, a palavra alienação vem do latim - alienare, alienus-, e significa "tornar algo alheio a alguém". Sob este aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu.

Numa linguagem filosófica contemporânea, veremos a alienação como o processo pelo qual os atos de uma pessoa são dirigidos ou influenciados por outros e se transformam em uma força estranha colocada em posição superior e contrária  a quem produziu, ou seja, é abandonar o centro de si mesmo, exteriorizando o eu e a individualidade. Nesta acepção, a palavra deve muito de seu uso a Karl Marx (1818-1883). Contudo, vale lembrar que o primeiro a utilizar-se desse termo foi Friedrich Hegel (1770-1831). Ele designava, assim, o processo pelo qual as pessoas desenvolveriam suas potencialidades nos objetos por elas mesmas criadas. Significaria, assim, uma exteriorização  da criatividade humana, sendo a própria cultura uma alienação.

Karl Marx retoma a temática hegeliana, mas critica a visão otimista do trabalho ao demonstrar como o objetivo produzido pelo trabalho surge como um ser estranho ao produtor, não mais lhe pertencendo. Isso não significa que Marx não considere o trabalho condição da liberdade. Ao contrário, esse é o ponto central do seu raciocínio. Para ele, o conceito de toda concepção humanista está em que o homem deve trabalhar, só que para si, afim de que o trabalho não desumanize.

O TRABALHO ALIENADO

Será que o trabalho aliena o indivíduo? Para Marx existe sim o trabalho alienado. Este seria o trabalho que a sociedade industrial criou, a sociedade dominada pela produção de mercadorias. O trabalho que rompe a ligação entre o homem e sua atividade vital, que exterioriza seu eu, que o faz sair de si mesmo, trabalhando pelo mero exercer das funções.

No filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin, (visto em sala de aula) mostra-se explicitamente o trabalho em sua forma de alienação. O indivíduo trabalhava em uma fábrica de peças e fazia sempre a mesma coisa: apertava roscas. Mas não sabia para quê, não tinha ideia de qual era a finalidade daquilo, era só mais um escravo do trabalho. Não havia uma finalidade para que estivesse fazendo aquilo, a não ser receber o salário no final do mês. Apesar dos absurdos dados nas sátiras do filme, o exemplo não nos foge da realidade contemporânea. As indústrias simplesmente compostas de trabalhadores fazendo meras repetições, sem conhecer, muitas vezes, o produto final daquele parafuso que ele aperta incansavelmente todos os dias. Sua realidade torna-se limitada e esse trabalho acaba por desumanizar o indivíduo, fazendo-o trabalhar como escravo de suas necessidades. Podemos disso tirar uma conclusão que, num cenário amplo, a sociedade capitalista aliena o ser humano, furtando-o de si mesmo para se tornar escravo do sistema.


LAZER ALIENADO

O trabalho em sua divisão antes do relógio, medido de acordo com o tempo natural, ou, sendo mais específico, com a luz natural, ou seja, os camponeses, artesões, enfim, a classe baixa, escrava do trabalho, antes da Revolução Industrial, trabalhava do clarear ao escurecer do dia o que lhes dava em torno de incansáveis 15 horas por dia de trabalho. Isso lhes furtava totalmente o tempo e acarretava numa vida sem lazer, uma vez que seus dias de folga só se davam por comemorações específicas da religião que requeriam, de certo modo, também mais um trabalho ao invés de folga ou liberdade. 

Com o surgimento do relógio juntos às reivindicações trabalhistas o descanso semanal é estabelecido, isso por volta de 1850. Mais tarde, só em 1919 é votada a lei das oito horas o que vem a trazer a semana de trabalho com cinco dias. Outras conquistas vêm surgindo com o passar do tempo, depois de 1930 temo o descanso remunerado e as férias que trazem, pois, no século XX, o "homem-de-após-trabalho". Isso marca o início de uma nova era, que tende a tomar contornos mais definidos com a intensificação da automação do trabalho. Caminhamos, assim, para a civilização do lazer.

O lazer é criação da civilização industrial, e aparece como um fenômeno de massa com características especiais, que nunca existiram antes do século XX. Deixara de privilégio dos nobres que, nas calçadas, festas, bailes e jogos, intensificavam suas atividades ociosas para ser produto vendido através da indústria cultural  - de diversão - que vende peças de teatro, filmes, livros, shows, jornais e revistas como qualquer outra mercadoria. O consumidor alienado compra seu lazer da mesma maneira como compra seu sabonete. Consome os “filmes da moda” e frequenta os “lugares badalados” sem um envolvimento autêntico com o que faz. Desse modo, se esforça e finge que está se divertindo, contudo, acaba por estar imerso na alienação do lazer. 

CONSUMO ALIENADO

Num mundo em que predomina a produção alienada, por consequência o consumo também tende a sê-lo. A produção em massa tem, por lógica, o consumo de massa.

O problema da sociedade do consumo é que as necessidades são artificialmente  estimuladas, sobretudo pelos meios de comunicação mais ativos (como a TV e a Internet) que leva os indivíduos a consumirem de maneira alienada. Esta estimulação artificial provoca aberrações no consumo: montamos uma sala completa de som som gostar de música, compramos inúmeras roupas para serem usadas pelos cabides dos guarda-roupas. A obsolência dos objetos ligeiramente postos fora da moda exerce uma tirania mascarada, obrigando as pessoas a estarem imersos no consumo desenfreado em busca da novidade, do sucesso, do "top de linha". É como beber o slogan ao invés da coca, é como fumar a marca ao invés do cigarro, é como vestir a loja ao invés da roupa. 

O consumo alienado não é um meio, mas um fim em si, tonando o indivíduo sempre insatisfeito, num poço sem fim, num sempre querer mais. A ânsia do consumo perde toda relação com as necessidades reais do homem, o que faz com que as pessoas comprem o que não precisa com o dinheiro que não têm para agradarem o molde social em que vivem.

O torvelinho produção-consumo em que está mergulhado o homem contemporâneo impede-o de ver com clareza a própria exploração e a perda da liberdade, de tal forma se acha reduzido na alienação; Ao deixar de ser centro de si mesmo, o homem perder a dimensão da contestação crítica, sendo destruída a possibilidade de oposição no campo da política, da arte, da moral.

Por isso, nesse mundo não há lugar para a Filosofia, que é, por excelência, o discurso da contestação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Cotrim, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas - São Paulo: Saraiva, 2006.

Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia - São Paulo: Moderna, 1993.

Links:

O Trabalho na História e no espaço.

No decorrer da história podemos analisar as diversas maneiras de organizar e conceber o trabalho. Em seu processo de desenvolvimento, podemos vê-lo sendo moldado ao mesmo tempo que moldando a(s) sociedade(s). Analisemos então o trabalho dentro de determinados períodos históricos.


PRÉ-HISTÓRIA

Não há como apontar o início de tudo ou estimar certamente quando o trabalho começou. Sabe-se quanto à consciência do homem, do momento em que ele passou a agir racionalmente e planejar seus atos. Assim, os antropólogos  apontam o começo da divisão do trabalho já na pré-história, tendo se dado entre os sexos., quando as atividades típicas da época como caçar, garantir proteção do grupo e guerrear eram reservadas ao homem enquanto os cuidados com os filhos e as atividades domésticas ficavam com a mulher.

Neste período, o foco dos grupos (ou bandos) era essencialmente a sobrevivência no meio em que viviam. As comunidades dependiam da caça e da coleta e isso os faziam migrar quando as reservas naturais da região em que estavam se tornavam insuficientes para o grupo. Chamamos a essas comunidades de nômades, pois não tinham habitações fixas.

Empós, no período neolítico (que vai do décimo ao terceiro milênio a.C.), com o surgimento da agricultura, a domesticação de animais e o próprio surgimento da necessidade de armazenamento de alimentos, o trabalho vai ganhando novos rumos, objetivos e planos. É quando surgem as comunidades sedentárias (que têm habitações fixas), possibilitando a troca de produtos entre membros de aldeias vizinhas, além, claro, de começarem a produzir quantidades maiores de alimentos que excedessem o  necessário para o consumo imediato.

ANTIGUIDADE ou IDADE ANTIGA

Durante a Antiguidade, o trabalho manual fora considerado em várias sociedades como uma atividade menor, desprezível, que em pouco se diferenciava da atividade animal. A valorização concentrava-se mais no trabalho intelectual, próprio dos homens que podiam se dedicar à cidadania ou mesmo ao ócio. É o que diz Aristóteles, filósofo grego (384-322 a.C.):

"A utilidade do escravo é semelhante à do animal. Ambos prestam serviços corporais para atender às necessidades da vida. A natureza faz o corpo do escravo e do homem livre de forma diferente. O escravo tem o corpo forte, adaptado naturalmente ao trabalho servil. Já o homem livre tem o corpo ereto, inadequado ao trabalho braçal, porém apto para a vida do cidadão. Os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios (estes tipos de vida são ignóbeis e incompatíveis com as qualidades morais); tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer (ócio) é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas."

ARISTÓTELES. Política, cap. II. 12546b, e cap. VIII, 1329a. 

IDADE MÉDIA

Na Idade Média, pouco desta concepção mudou. Todavia, o trabalho passou a ser considerado um “bem árduo”, necessário à evolução do homem, por meio do qual cada indivíduo se tornaria um homem melhor, conforme referia São Tomás de Aquino (1221-1274), filósofo e teólogo cristão. Contudo, se era valorizado o trabalho intelectual. A novidade era que o trabalho braçal, de acordo com o cristianismo medieval, seria uma forma de sofrimento que serviria como provação e fortalecimento espiritual para se alcançar o Reino do Céu.

IDADE MODERNA

A partir da ascensão social da burguesia, por volta do século XVI, a concepção católica sobre o trabalho sofreu contestação. Surge, neste período, o protestantismo, que fez com que o trabalho fosse revalorizado trazendo como sinal de "bênção de Deus" os que tinham sucesso econômico. Nestes paradigmas, o homem deveria viver uma vida lucrativa e ativa, pautada pelo trabalho. Entre essa ética protestante e o desenvolvimento da do capitalismo nos países que predominavam o protestantismo, Max Weber (1864-1920),  sociólogo alemão, analisou que haveria uma suposta relação e que este sentido de trabalho valorizado, que visa a busca pela riqueza, ficou restrito  às "classes maiores", que conseguiram acumular capital e investir nas atividades produtivas. 

IDADE CONTEMPORÂNEA

No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) definiria o trabalho como elemento de autoconstrução do homem. Ele destaca, assim, o aspecto positivo do trabalho, ou seja, o fato de o homem não apenas se formar e se aperfeiçoar, mas também se libertar, pelo domínio que exerce sobre a natureza.


Tal como Hegel, Karl Max (outro filósofo alemão) também resguardou esse aspecto fundamental do trabalho, todavia destacou seu lado negativo nas sociedades capitalistas, questionando a suposta liberdade do trabalhador assalariado – compelido a vender sua força de trabalho para sobreviver, eis que única opção existente, além de revelar as condições aviltantes a que eram submetidos os trabalhadores no processo de produção e os corolários danosos destas circunstâncias sobre suas vidas. Desvendou, pois, o processo de alienação (conteúdo das próximas aulas) que nada mais é senão consequência do trabalho forçado. , desenvolvido a partir do trabalho assalariado nas sociedades cujo modo de produção era o capitalista.


Referência bibliográfica/Fontes de pesquisa:

ARISTÓTELES. Política. cap. II. e cap. VIII.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 
Karl Max - http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx
Conceito de alienação (segundo Karl Max) http://marcilohistoricizando.blogspot.com.br/2007/08/conceito-de-alienao-segundo-karl-marx.html
O escravo como coisa e o escravo como animal. (Artigo de Beatriz Avila Vasconcelos- disponível no link: http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/julho2012/arquivos_pdf/15.pdf)
A alienação do trabalho e a advocacia moderna - http://ensaiolibertario.blogspot.com.br/2009/11/alienacao-do-trabalho-e-advocacia.html

Trabalho: liberdade e submissão.


UMA ATIVIDADE TÍPICA DO HOMEM.

É muito comum, na estética social atual, que, tendo o nome trabalho à mente, nos venham palavras como empresa, salário, operário, patrão ou mesmo meio de adquirir dinheiro. Um erro, ou no mínimo uma especificação rasa que não define bem o que é o trabalho. Claro que nos é impossível negar que trabalho seja isso também - inclusive maiormente se analisarmos num contexto conteporâneo-, contudo, não resume-se nem conclui-se somente nisso. Pensemos mais a fundo, de forma mais ampla, num todo, no trabalho como algo primeiramente de consciência, e, depois, realizado no material. O ser humano, como dizia Karl Marx:
"não transforma apenas o material em que trabalha. Ele realiza no material o projeto que trazia em sua consciência."
MARX, Karl.  O Capital, I. 1, seção III, cap. V.

O que dizer da engenhosa arte das aranhas ao tecer suas teias em desenho e fôrma perfeitos? E as abelhas, como definir suas construções em colmeias em tão grande perfeição? Não seria, pois, tudo isso, trabalho? É importante retratar que os animais irracionais, diferentes do homem, não projetam  mentalmente seu trabalho antes se realizá-lo. Isso é o que faz o trabalho uma atividade típica do homem.

MAS, O QUE É TRABALHO?

Definamos (de forma sucinta) então trabalho como toda e qualquer atividade na qual o ser humano utiliza sua energia para satisfazer necessidades, transformar algo ou atingir determinado objetivo. O trabalho realiza-se em si, de si, ou consigo. É elemento fundamental  nas relações homem e natureza, saber e fazer, teoria e prática e, por intermédio dele o ser humano cresce o seu eu acrescendo sua própria existência. Neste sentido, o trabalho torna-se uma atividade tipicamente humana.

O TRABALHO EM DOIS ASPECTOS: INDIVIDUAL E SOCIAL.

Pensemos então sobre o papel do trabalho. Para quê ele serve? Qual sua função? Numa perspectiva  individual podemos perceber o trabalho que ele permite ao homem expandir suas energias, desenvolver sua criatividade e realizar suas potencialidades. É através do trabalho que o homem irá moldar a realidade sociocultural ao mesmo tempo que moda a si próprio, podendo assim, modificar tanto o mundo quanto a si, de igual modo. 

Numa perspectiva social, ou seja, visto num esforço conjunto dos membros de uma comunidade, o trabalho objetivaria tanto a manutenção quanto a satisfação da vida, além, claro, do desenvolvimento da sociedade. Assim edificaria a própria cultura bem como a solidariedade, a coletividade e a união entre os seres humanos.


Referências bibliográficas/Fontes de pesquisa:


MARX, Karl. O Capital, I. 1, seção III, cap. V.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grande temas. - São Paulo: Saraiva, 2006.

Sites:
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/trabalho.htm
http://www.brasilescola.com/filosofia/capital-trabalho-alienacao-segundo-karl-marx.htm

Namorando Sophia

Já nos é sabido que "Sophia" (σοφία) vem do grego e quer dizer sabedoria. Partindo desse princípio e com a intenção de montar um espaço virtual onde pudéssemos compartilhar nossos conteúdos de Filosofia, foi criado o "Namorando Sophia" - Blog para os alunos do 8º e 9º ano da E.F. São Francisco.

O Blog objetiva, além de disseminar os aprendizados das aulas de Introdução à Filosofia, viabilizar a comunicação e a interação educando-educador que passa a se estabelecer mais firmemente também no virtual, campo de forte atuação dos alunos. A página será utilizada pelas turmas para debate acerca dos conteúdos e como material de apoio, uma vez que comportará inúmeras temáticas discutidas em sala de aula.

Que este espaço possa nos ser de muita utilidade para futuras discussões e trocas de conhecimento. Que esta forma de ensino fomente em cada um dos envolvidos o anseio pelo aprendizado e, sobretudo, a vontade de estar próximo dessa disciplina apaixonante que é a Filosofia.